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Foto do escritor Ingrid Osternack

Anatomia & Ilustração Infantil

Quando se trata de desenho do corpo humano, saber desenhar os músculos e proporções corretas é algo desafiador para a maioria das pessoas.


Em muitas faculdades, estudamos anatomia artística por vários anos, às vezes em todos os anos. Esse foi o meu caso. Tive Anatomia como disciplina pelos 4 anos de minha graduação em Belas Artes. Veja alguns estudos que fiz durante esse tempo.



Desenhos que fiz enquanto estudava Belas Artes em Veneza.


As proporções, ossos e músculos são algo fascinante. E muito necessário em alguns campos da área artística.


Entretanto, quando se trata de ilustração infantil, a anatomia não precisa ser perfeita. Vejo muitos aspirantes a ilustrador bastante preocupados com isso.


Mais que uma mão bem desenhada, o que importa em ilustração infantil é que a criança se relacione com a imagem e compreenda a mensagem que ela quer passar. Que suscite emoções, sentimentos, reflexões e até mesmo a deixe intrigada. Que desperte a curiosidade e outros interesses. Que se relacione com a imagem, que construa seu pensamento crítico e que aquilo tenha significado para ela.


A ilustração infantil é, na maioria das vezes, a primeira forma de arte que a criança tem acesso.


Como já falei aqui, a ilustração é uma arte narrativa. Ela conta uma história, transmite uma mensagem, traduz uma ideia ou conceito. É, enfim, uma arte que ‘ilustra’ algo. Geralmente vem acompanhada de um texto. Quando não vem, ela própria se faz ‘narrativa visual’.

São muitas as pessoas que acham que somente desenhar basta para ser ilustrador. Mas alguém pode fazer uma linda obra de arte e não conseguir passar a ideia nem contar a história que deveria.


Há, sim, áreas da ilustração em que anatomia artística perfeita é necessária. Livros para crianças maiores – e não mais ilustração infantil – pedem personagens mais realistas. Mas quando se trata de ilustração para crianças pequenas, a sua imaginação é o limite.


Vejamos uma ilustração do ilustrador francês Christian Voltz. O quanto de anatomia artística há nela? Não é impressionante o quanto ele consegue contar? Note as expressões dos personagens, seu sentimentos...




Ou então a ilustração de Cécile Gambini?




Enfim, não estou dizendo que a anatomia não é importante. É sempre bom saber como é o corpo humano para ilustrar. Mas o fato de não desenhar o mesmo com perfeição não pode ser um impeditivo para que você deixe a sua imaginação aflorar e criar suas ilustrações.


Existe uma frase atribuída a Pablo Picasso, que diz:


⁠Aprenda as regras como um profissional, então poderá quebrá-las como um artista.


Note que interessante: a ideia dessa afirmação é de que o artista teria o direito de quebrar regras. E nós, como ilustradores, somos artistas.


Não é à toa que existe o termo ‘licença poética’. O poeta, como artista da palavra, teria o direito de ‘cometer erros’ de ortografia e gramática para poder se expressar como deseja.


Veja o que diz o dicionário Houaiss:


Licença Poética: liberdade de o escritor utilizar construções, prosódias, ortografias, sintaxes não conformes às regras, ao uso habitual, para atingir seus objetivos de expressão.


Assim, nós também, como artistas, temos o direito de ter a nossa ‘licença artística’, que se trata da distorção de algumas regras, como elementos de anatomia e perspectiva, a fim de poder criar uma imagem que transmita melhor a ideia que queremos expressar.


Para finalizar, a afirmação de Sophie Van der Linden, no livro “Para ler o livro ilustrado”: o “livro ilustrado é uma forma original, livre e que, felizmente, permanece em parte inapreensível” e “que escapa a qualquer tentativa de fixação de regras de funcionamento”.


(Clique AQUI para conhecer o livro).


Um ilustrado final de semana!


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