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Foto do escritor Ingrid Osternack

Ilustração de Livro Infantil – Meu Processo de Trabalho

Muitas pessoas me perguntam como faço as minhas ilustrações. Algumas perguntam se são digitais, outras me perguntam como consegui ‘aquele’ efeito, outras não acreditam que eu ainda use materiais tão tradicionais como acrílico e pincéis. Eu até tenho uma mesa digitalizadora que é fantástica, e uso alguns softwares para alguns trabalhos, mas gosto mesmo é das tintas! Principalmente a tinta acrílica. É um tipo de material muito versátil e de secagem rápida, e gosto muito dos efeitos que me permite executar. Vou até falar mais sobre isso em outro post.

Esboço para “A Busca de Aninha”

Mas como é que eu faço uma ilustração? Ou melhor, como é que eu organizo o meu trabalho de ilustração de um livro infantil, desde o comecinho? Bem, eu gostaria de apresentar um pouco do meu processo de trabalho na ilustração de um livro infantil.

Análise do Texto, Story-Board e ‘Boneca’ do Livro

Tudo começa com o texto. Geralmente a editora me manda o texto e solicita um orçamento. O orçamento depende do número de páginas e do formato do livro. Também é importante ressaltar que o valor das ilustrações depende do uso da ilustração. Mas isso não vai entrar em discussão agora.

“Você lê o texto antes de ilustrar?”

Depois de acertado o orçamento, prazos, formatos, etc, eu leio o texto várias vezes (alguns trechos eu chego a memorizar de tanto ler) e tento imaginar o que o autor quer dizer com aquele trecho ou frase. (Uma observação: eu leio tanto e comento tanto sobre o texto enquanto estou trabalhando nele, que até o meu marido acaba memorizando alguns trechos… eh, eh!).

Aqui gostaria de comentar sobre uma pergunta que me fizeram numa oficina de ilustrações: “Você lê o texto antes de ilustrar?” Bem, como eu poderia ilustrar algo se não sei do que se trata? E não basta ler só uma vez, a gente tem que ‘sentir’ o texto, de forma que depois possamos ‘traduzi-lo’ em imagens. A cada vez que lemos algo, descobrimos alguma novidade no texto. E, enquanto leio, faço também anotações referentes a outros textos, características dos personagens, sentimentos, lugares… Também imagino o que os leitores vão pensar a respeito daquele trecho, que emoções estão sentido os personagens e quais emoções o texto vai suscitar nos leitores, como é o clima do momento, em que ambiente estariam ou não, se passou certo tempo na história, etc.

Ao mesmo tempo, faço muita pesquisa sobre o assunto do livro, sobre a época, roupas, hábitos, cores, moradias, tipo de vegetação (não é horrível ver um coco numa bananeira? Minha filha ganhou um livro assim) e até leio outros textos que tem afinidade. Enquanto isso, já vou imaginando os personagens, o que vestiriam, traços físicos, faço alguns esboços, procuro referências visuais, não só para saber como poderiam ser, mas até mais para evitar a repetição do que já existe. Sobre animais, por exemplo, observo a anatomia, como é o corpo, suas cores e variações. Isso não quer dizer que o personagem que vou criar será hiper-realista, uma foto ‘autenticada’ do real. Aliás, isso é o que eu acho mais interessante na ilustração, e vou dedicar um post a isso também.

A partir da leitura eu começo a dividir o texto pelo número de páginas. É importante lembrar que no livro há também a folha de rosto, os créditos, e às vezes até dedicatória. Mais do que um story-board, eu gosto de fazer uma ‘boneca’ do livro, onde faço anotações e alguns esboços. Também costumo imprimir o texto e colar os trechos nas folhas. Isso facilita não só a visualização da posição do texto, mas deixa o texto acessível para eu verificar sempre se a ilustração tem a ver com o texto daquela página. É um processo bem artesanal, talvez alguns considerem até meio ultrapassado, mas funciona bem para mim. Além desse processo físico, também costumo fazer a mesma coisa de modo digital: crio um ‘livro’ no computador, insiro o texto separado em cada página, e insiro os roughs (rafes) nas páginas. Esse arquivo é o que eu costumo enviar para a editora para a aprovação dos roughs. Além de apresentar visualmente a ideia do que pretendo fazer ao editor, esse arquivo também ajuda o diagramador a saber o trecho do texto que se refere a cada ilustração e o que deve colocar em cada página. 

Para finalizar, gostaria ainda de ressaltar: não sei como os outros ilustradores fazem. Esse é o processo de trabalho que eu executo. Se alguém fizer diferente e achar que existe um jeito melhor, mais bonito, mais fácil, mais eficiente, eficaz e efetivo, eu também quero saber! Me escreva! Vou gostar muito de ouvir seus comentários e sugestões!

No próximo post eu vou falar sobre os rafes.

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