Muitas vezes as pessoas olham com certo “desinteresse” a profissão do ilustrador e do desenhista. Na verdade, ser artista parece ser algo que não é levado muito a sério e muita gente só considera a validação exterior, quando o artista é famoso e está ‘ganhando muito dinheiro’. Há pessoas que valorizam, sim, mas geralmente são pessoas que estão em áreas afins, ou então gostariam de trabalhar com arte e ilustração.
Por que estou falando isso? Porque quando você é microempresário, ou autônomo, e principalmente quando seu studio é na sua própria casa, as pessoas tem a tendência a acreditar que você não faz nada. O artista é visto como alguém que não trabalha. Parece que o conceito de trabalhar é ‘sair de casa”. Porque, do contrário, imaginam que você fica em casa de pijama. Não tem ideia da quantidade de horas que você passa pesquisando, ilustrando, ajustando as imagens no computador para que fiquem na tela exatamente o que você ilustrou, comprando materiais, fazendo negociações, lidando com os aspectos legais da profissão, networking, marketing, tudo isso entremeado com a vida pessoal, que todo mundo tem e que é o que dá colorido à vida.
Eu já escrevi isso aqui, mas vou contar novamente para quem não ouviu ainda – é como diz brincando o meu filho:
– Você fica o dia todo desenhandinho. :-)
Não só o dia todo, mas também algumas madrugadas para entregar dentro do prazo. Rsrs…
Há anos venho ‘matutando’ sobre esse assunto e percebi que a nossa profissão tem um impacto enorme. Aparentemente, até parece que não. Mas comecei a pensar em quantos livros já tinha ilustrado, e na quantidade de exemplares que foram impressos até hoje, e cheguei à conclusão que mais de 30.000 crianças já receberam livros com minhas ilustrações. Para alguns pode parecer pouco, mas para mim é muito relevante. Isso quer dizer que eu fiz parte, pelo menos por alguns minutos, da vida de cada uma dessas crianças. Existem, claro, livros que nunca foram abertos, mas o livro pode ser lido e relido e, se estiver numa biblioteca de escola, muito mais crianças terão visto e lido o mesmo. E quantas escolas podem ter usado o livro que ilustramos para trabalhar conteúdos, ou interpretar um texto?
Nessa semana há oficinas acontecendo com um livro que ilustrei: Sibila. A própria autora está trabalhando a história com várias crianças. Com um só exemplar, ela tem contado a história da cobrinha Sibila para centenas de crianças.
Inclusive ela mandou fazer alguns bichinhos de pano exatamente no formato, cores e texturas que ilustrei. Não é pra ficar feliz?
Voltando ao nosso assunto, o livro também não costuma ser jogado fora, mas dado a outra pessoa. Quantas crianças receberam um livro usado até hoje? Eu, quando pequena, recebi muuuitos.
Alguns desses livros que ilustrei já foram traduzidos e hoje estão em outros países. Por quantas mãozinhas já passaram? Criaram sonhos? Suscitaram emoções? Divertiram?
É claro que isso também depende do próprio ambiente e contexto onde a criança se encontra, e também da história. Mas o ilustrador tem uma grande responsabilidade em suas mãos, pois há crianças que ainda não leem e que só vão absorver a mensagem das imagens. E há crianças que ficarão mais impactadas pelas imagens que pelo texto. Por isso, é importante pensar no leitor, no que a imagem vai comunicar, se poderá ser interpretada erroneamente, qual o público alvo…
Pare e pense agora: será que, nesse mesmo momento em que você está lendo esse texto, não tem alguém com um livro seu nas mãos, admirando o trabalho que você fez? Ou, se você ainda não publicou o seu livro, imagine no futuro a alegria das crianças ao receber e abrir um livro ilustrado inteiramente por você? Não é emocionante? Não faz a vida do ilustrador valer muito a pena? :-)
Comments