Uma das coisas que mais recebo mensagens a respeito ou leio comentários é sobre o fato de que a pessoa tem o sonho de se tornar ilustrador de livros infantis.
Isso é algo que me fascina: o que faz algumas pessoas realizarem os seus sonhos e outras deixarem ele apenas na imaginação?
Se esse é o seu caso, queria fazer algumas perguntas a respeito:
. Como você se sente sobre isso?
. É algo que lhe incomoda?
. O que te impede de realizar esse sonho?
. Quais são os obstáculos?
. Será que você já não desistiu desse sonho? Já desanimou e se conformou que isso não vai mesmo acontecer?
Quando eu era adolescente, li um artigo que falava sobre os maiores arrependimentos das pessoas, narrados por uma enfermeira que atendia idosos no hospital. Eles não se arrependiam do que tinham feito, mesmo que não tivesse dado certo. Eles se arrependiam do que não tinham feito, dos sonhos não realizados, de não ter tentado, de ter tido medo ou vergonha.
Esse texto marcou minha vida, e sigo isso como um lema. Prefiro tentar e falhar do que não tentar e perder uma oportunidade que pode ser única. Afinal, sempre há duas respostas: sim ou não. E o não, se eu não tentar, eu já tenho. Só me resta a outra opção.
Mesmo passando vergonha. Uma vez, enquanto moramos na Suécia, convidados pela escola de minha filha, os pais e os alunos foram patinar no gelo.
A maioria do pais ficou de fora. Mas eu achei que era uma oportunidade de tentar algo que eu sempre tinha tido vontade de fazer. E minha filha queria muito que eu fosse (como negar?). Mas ela era só a desculpa. Eu queria tentar mesmo.
Não foi nada fácil. Mais dolorido do que parece. Sabe quando você cai e bate a cabeça em algo muito duro? Cai de um jeito que não tem onde nem como se segurar? De um jeito que escorrega e não dá tempo nem de botar os braços para amortecer a queda? Dói muuuito. E eu não caí somente uma vez. Foi realmente vergonhoso.
Pra piorar, tinha um pai – finlandês – que deslizava como um campeão, fazendo piruetas e se exibindo. Fala sério! Precisava humilhar?
No fim, depois de muitas quedas, dor no pé – as botas apertam bem o pé da gente – deixamos o rinque e uma mãe que estava fora me disse: Parabéns pela coragem.
Os pais que tinham ficado fora tinham se divertido às minhas custas. Afinal, só eu tinha ido patinar sem saber. Os demais, que tinham entrado, já sabiam desde pequenos. Mas pelo menos tentei e não fiquei com aquela sensação de me arrepender de não ter feito.
Mas, voltando ao assunto, se você ainda pensa em realizar o seu sonho, seja se tornar ilustrador ou não, saiba que ele está ainda dentro de você. Temos a mania de achar que um dia, quando tudo for perfeito, aí sim vamos poder nos dedicar ao que desejamos.
Entretanto, nesses últimos meses percebemos que a vida é mais curta do que imaginávamos. Que a longevidade não é uma garantia. Quantos sonhos não realizados foram embora com nossos queridos?
Um sonho mal resolvido pode prejudicar nossa qualidade de vida. Ficamos sempre com aquela sensação de tempo perdido, de que não estamos de fato ‘vivendo’.
Na verdade, a palavra sonho já denota que é algo irreal, que dura uma noite e se esvanece na manhã seguinte.
As palavras e definições que usamos afetam nossas atitudes. Se você fala em ‘sonho’, é algo distante e que parece inatingível. Porém, se você falar em objetivo, aí a coisa já muda de figura.
Objetivo, nada mais é do que um sonho com uma data para acontecer. Com uma ‘deadline’.
E quando temos um objetivo, temos que ser práticos. Temos que elaborar um plano para chegar lá.
Eu sou fã do ‘devagar e sempre’. Melhor fazer devagar e ser constante do que não fazer nada, não começar nunca.
Há um tempo ouvi uma frase: sempre temos um preço a pagar para conseguir algo.
Se temos um objetivo, o preço e o esforço pode vir antes, como por exemplo, estudando, praticando, se esforçando.
Por outro lado, quando não nos esforçamos, e não atingimos nosso objetivo, da mesma forma temos que pagar um preço. O preço do esforço que faremos por não ter alcançado aquele objetivo dentro de um certo período de tempo.
Exemplo: dois estudantes. Um se esforça, estuda, pratica e acaba conseguindo seu certificado. E outro, prefere não estudar, somente se divertir, não segue os ensinamentos e diretrizes que lhe ensinam. E não consegue obter o seu certificado.
Só que ambos vão se tornar adultos e vão precisar trabalhar para viver. Um terá uma competência, que vai lhe proporcionar um trabalho, um rendimento. E o outro terá que trabalhar com alguma outra coisa, que talvez nem goste, e talvez o esforço dele seja até dobrado, porque não adquiriu nenhuma competência ou especialização.
Sempre temos um preço a pagar, seja antes ou depois.
Eu vejo muito disso hoje em dia. Tenho amigas que desistiram não somente do seu sonho, mas não terminaram os estudos.
Vindo de uma família muito simples, morando num bairro popular, notei que a maioria de meus vizinhos não buscaram estudo. Na verdade, das casas que estavam na mesma quadra, somente meus irmãos, meu primo e eu nos formamos. Não foi fácil. Meus irmãos terminaram a faculdade já depois de adultos. Um já era casado e com filhos. Todos começamos a trabalhar muito cedo. Meu irmão mais novo aos 11 anos, meu irmão mais velho aos 14 e eu comecei a fazer estágio ainda no Ensino Médio. Me formei no Magistério, depois em Administração, consegui um emprego fixo, fiz uma pós em Marketing, especialização em Metodologia do Ensino Superior… Depois casei, tive um filho… mas meu ‘sonho’ de trabalhar com ilustração e arte ainda vivia dentro de mim. Prestei dois vestibulares para Belas Artes, e passei em ambos, mas não pude concluir nenhum, pois nos mudamos.
Meu marido tinha sido convidado para trabalhar na Itália. Me preparei, aprendi italiano, busquei faculdades antes mesmo de chegar no país.
Descobri algumas, todas muito longe. Não tinha com quem deixar meu filho pequeno. Foi uma barra conseguir passar no vestibular de lá, conseguir a documentação. Mas não desisti. Foram momentos muito difíceis. A faculdade ficava em outra cidade.
Para quem olha de longe, parece que foi simples. Mas foram meses para estruturar tudo e derrubar os obstáculos. Mas eu pensei: vou me preparando agora, aos poucos, mesmo sendo tudo tão ‘imperfeito’.
Se você cuida de alguém doente, não há momentos em que pode aproveitar para estudar? Se está com filhos pequenos, não há momentos em que eles dormem?
Dizem que a autora do Harry Potter escreveu seus livros em cafés, enquanto seu filho dormia no carrinho.
Nos anos em que fiz Belas Artes, eu ficava quase todas as noites fazendo trabalhos e estudando até as 2h da manhã. Foi um preço que paguei. Mas hoje, com mais de 20 livros ilustrados, vejo que valeu muito a pena.
Essa faculdade era a oportunidade de uma vida – da minha vida. Como eu poderia não tentar?
Enfim, essa história não vou contar agora, pois é bem longa. Mas até a polícia italiana, numa blitz, me parou por acaso na volta da faculdade, apreendeu minha carteira e o carro – que nem era meu. Eu tinha a carteira internacional, mas eles falaram que não era válida. Depois fui até falar com o juiz, que acabou me dando razão. Mas todo esse processo levou meses.
Mas quero dizer que, se eu não tivesse tentado, e aproveitado a oportunidade, hoje não estaria fazendo o que faço. Foram muitos anos, dos quais 4 foram só de estudo. Mais tarde, aperfeiçoamento em ilustração infantil também.
Muita gente pensa que as coisas acontecem facilmente. Não sabem dos anos que levamos aprendendo e nos preparando. Nem sempre estão dispostos a pagar o preço.
O tempo é inexorável, não volta. Temos que pensar no que podemos fazer HOJE para dar mais um passo em direção ao nosso objetivo.
Qual é o processo que VOCÊ precisa passar para chegar ao seu objetivo? Qual é o seu plano? Quais são os pequenos passos que você precisa fazer para que, quando chegar aquele momento que você espera, você já terá realizado e estará à frente no seu plano?
Divida seu planejamento em etapas e vá fazendo aos poucos. Não deixe para depois. Isso vai só trazer muita frustração com o passar dos anos.
Quem falha em planejar, já está planejando falhar.
Lembre: sempre há um preço a pagar. Você escolhe quando: antes com um custo menor, ou depois com um custo maior.
Ontem, li uma frase interessante, de Simon Sinek:
Trabalhar duro por algo que não curtimos ou valorizamos se chama stress. Trabalhar duro por algo que tem sentido para nós e que valorizamos se chama PAIXÃO.
E é verdade. Quando gostamos de algo, as horas passam rápido e trabalhamos com afinco. Nem parece trabalho, alguém diria.
A mesma pessoa que falou a frase acima diz que há dois tipos de pessoas: aquelas que veem o objetivo depois do grande esforço. E aquelas que veem o grande esforço e que não acham que vale a pena a jornada para chegar nele.
Qual deles é você?
Para finalizar, pense no que te impede de fazer o que quer para rumar em direção ao seu sonho. Faça uma lista do que está lhe dificultando.
. São os outros?
Não podemos culpar os outros pelo que nós não conseguimos realizar. Somos nós que fazemos nossas escolhas e que arcamos com as consequências delas.
. É falta de ajuda?
Embora nem todos seja assim, algumas pessoas estão dispostas a ajudar. Basta tentar.
. É falta de recursos?
Há muita coisa que tem custo baixo. Na verdade, é tudo uma questão de prioridade. O que é mais importante: o seu sonho ou seu ‘cafezinho’ diário? Uma profissão que vai te dar qualidade de vida ou uma pizza no mês?
. É falta de tempo?
É possível se preparar mesmo em períodos de tempo pequenos. Cinco a dez minutos por dia são 30 a 60 horas num ano. Já pensou no quanto pode aprender e praticar em 30 horas? Muitas vezes perdemos mais tempo nas redes sociais do que em algo educativo.
Enfim, algo que precisamos muito – também – é entender que as coisas não acontecem da noite para o dia. Tudo que é bom, requer tempo para se desenvolver.
As plantas precisam de tempo para crescer, um bebê precisa de 9 meses para se desenvolver, e eu gosto do exemplo que Deus nos deu ao criar o mundo. Ele levou 6 dias. Sendo Deus, Ele não poderia ter criado num ‘piscar de olhos’?
Eu sempre uso esse exemplo com meus filhos. Se Deus criou o mundo em 6 dias e descansou no 7º, é porque Ele queria nos mostrar como devemos fazer as coisas: devagar, de modo constante e descansando de vez em quando.
Não precisamos fazer tudo correndo. Podemos começar já a dar passos em direção ao que almejamos. E quando vier aquele momento que você espera, onde tudo será perfeito, você já estará preparado.
Estou trabalhando num projeto diferenciado, que está em teste. Se você está numa situação assim, onde tudo parece difícil, mas gostaria de aprender a ilustrar aos poucos, devagar, por um preço baixo, dedicando 10 a 15 minutos por semana, entre em contato comigo.
Ilustrado fim de semana para você!
Que inspiração!! Obrigada Ingrid por compartilhar um pouco da sua história, é muito motivacional.