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Foto do escritor Ingrid Osternack

Por que alguns ilustradores parecem ter mais sucesso que outros?




Antes de começar a falar em sucesso, é preciso definir bem essa palavra. Cada pessoa tem uma visão de sucesso. Isso depende de vários fatores, mas o mais importante, a meu ver, é a personalidade de cada um.


Alguns acham que sucesso é ficar famoso. Outros acham que sucesso é ganhar algum prêmio importante. Outros acham que é ter muitos admiradores ou seguidores. Para mim, no entanto, sucesso tem a ver com ser bem sucedido. O que eu quero dizer com isso? Ser bem sucedido, a meu ver, é viver fazendo o que se gosta e receber por isso.


Sucesso é muito relativo. Quando eu comecei a ilustrar, eu pensei: vou me sentir realizada quando publicar meu primeiro livro. Isso já aconteceu há muito tempo e minhas metas foram mudando à medida que foram sendo realizadas. Acredito que seja assim com todo mundo, e acho que se não fosse assim, a vida seria um tédio, né? Como eu já postei aqui no meu blog: Objetivo é um sonho com data marcada para se realizar.


É verdade que, quanto mais pessoas gostam do seu trabalho, mais chances você tem de conseguir outros trabalhos. E ter muitos seguidores e fãs faz com que você tenha mais admiradores. E admiradores/seguidores fazem empresas desejarem contratar você ou fazer parcerias.


Eu acredito que, se alguém paga para ter um produto ou livro ilustrado por você, significa que essa pessoa admira o seu trabalho a tal ponto que está disposta a trocar os recursos financeiros que ela tem para ter algo feito por você. E é sobre esse tipo de sucesso que quero conversar.


Algo que sempre deixa as pessoas intrigadas é saber por que alguém tem mais sucesso que outra pessoa em alguma área. Alguns dirão que foi sorte, ou que tem um conhecido que ajudou, e alguns poucos dirão que aquela pessoa trabalhou duro. Na realidade, se tivesse uma fórmula, todo mundo faria. A realidade é que todo mundo ‘especula’ sobre o que traz mais sucesso a alguém e todo mundo tem algumas opiniões. Eu também tenho a minha e vou falar um pouco sobre isso.


Pensando sobre isso, cheguei à conclusão de que existem vários fatores que são realmente favoráveis a um sucesso maior de um profissional do que de outro. Ou, pelo menos, de uma maior probabilidade em encontrar clientes e conseguir viver de arte. Vou dividir esse assunto em duas parte: fatores externos e internos.


Fatores externos são aqueles que a gente não pode controlar. Vejamos alguns deles:


- Lugar: hoje em dia, apesar de termos internet e podermos trabalhar remotamente, é verdade que estar num lugar onde as coisas acontecem ajuda muito na carreira. Se você mora nas principais capitais do país, ou numa cidade que tem muitos eventos, feiras e onde se situam algumas editoras e agências de publicidade, por exemplo, você terá mais facilidade em encontrar as pessoas certas. Como já falei aqui, por trás de toda empresa existem pessoas, e essas pessoas tem gostos, preferências...


Não é o fato de você morar na mesma cidade onde uma grande editora está situada que vai levar você a ter mais chance. Mas o fato de você poder frequentar mais facilmente os círculos onde essas pessoas frequentam ajuda muito. Às vezes, um trabalho surge numa festinha de aniversário de uma amiguinha da escola de sua sobrinha.


- Networking Indireto: encontrar pessoas faz parte do trabalho de todo freelancer. Por mais que um cliente seja grande, eles mesmos sentem a incerteza de contratar alguém que não conhecem. Como estamos no meio da ‘teia’, não temos noção de que pessoas próximas às vezes tem parentes que trabalham na área editorial (por exemplo) e que de certa forma estamos ligados a pessoas que conhecem outras pessoas, que conhecem alguém que está precisando justamente do tipo de trabalho que você faz.


- Networking direto - amizades: quando alguém está numa posição de decisão numa empresa, e precisa de alguma ilustração, geralmente pensa em alguém conhecido para um trabalho, pois a confiança, o fato de saber que aquela pessoa existe, ou até a vontade de trabalhar junto a alguém, leva a querer contratar um amigo. Embora não seja regra, acontece bastante. Quem é que não gosta de ir num médico que seja um conhecido? Ou contratar um amigo advogado para uma consulta sobre um problema legal?


Uma vez ouvi um colega contando que tinha vários livros engavetados há muito tempo. Um dia um amigo dele, que trabalhava numa editora, ligou e disse: “Fulano, você tem ainda aquele livro aí? Tenho que apresentar um projeto urgente aqui na editora”. Alguns dirão que é sorte. Mas eu digo que é o trabalho duro que finalmente encontrou a oportunidade.


- Preferências pessoais: como já mencionei antes, cada pessoa tem um gosto. O que um gosta, outro não gosta, e assim acontece também com ilustração. Você já deve ter notado que algumas pessoas amam o impressionismo e outras acham bem sem graça. Uma colega minha na Accademia di Belle Arti di Venezia disse uma vez, numa mostra sobre o impressionismo que estávamos visitando, com pinturas de Monet, Degas, Renoir, etc:


"A me non piace l’impressionismo. Visto uno, visto tutti." (Eu não curto o impressionismo. Uma vez visto um (quadro impressionista), visto todos).


Eu, por exemplo, acho a fase impressionista maravilhosa. Mas cada um gosta de uma coisa. Eu admiro Milton Dacosta, mas tenho certeza de que muitos preferem Di Cavancanti. Por isso, cada cliente tem um gosto também e pode preferir mais o trabalho de um ilustrador do que de outro.


Uma vez eu estava fazendo um trabalho para uma instituição e o diretor de arte gostou muito de uma ilustração que fiz. Na conversa que tivemos, ele estava empolgado com o trabalho e no fim da reunião quis me mostrar ilustrações de um amigo dele que morava em outro país (olha o relacionamento), e que fazia ilustrações ‘tremidas’, que ele curtia muito também.


Quando você coloca duas pessoas para olhar para uma mesma imagem, as interpretações são diferentes, as sensações são diferentes, as emoções também, e não somente dependendo do ‘background’ da pessoa, mas também de como ela está naquele momento, das experiências dela e da própria personalidade.


- Interesses midiáticos: Às vezes a preferência por um profissional vai além do talento ou da habilidade dele. Existe também a possibilidade do cliente querer ‘alavancar’ o produto dele e por isso contrata algum ilustrador que tenha mais fama que outro, ou que tenha relação com o tema. Já vi acontecer isso com ilustradores que, não mais talentosos que outros, conseguiram um trabalho porque eram pessoas polêmicas, que davam muita repercussão na mídia e que fariam propaganda praticamente gratuita do produto. Já vi celebridades ganhando prêmios por trabalhos que produziram de modo amador, mas que cuja fama era mais importante para a instituição do que valorizar o trabalho de ilustradores profissionais. Muita gente ficou indignada naquele ano, mas o ditado “falem bem falem mal, mas falem de mim” prevaleceu. Fez com que fosse muito falado, e isso trouxe muita mídia gratuita para a instituição.


- Profissionalização: ilustradores que tem uma empresa, que fazem contratos, que dão NF, que tem seu website, etc, tem mais chance de serem vistos como profissionais. Se um ilustrador não sabe como precificar, isso já deixa o cliente inseguro, e faz com que ele procure outro profissional. Afinal, quando alguém quer nos contratar, quer uma pessoa que lhe traga soluções, e não alguém que dê mais trabalho e com o qual tenha que microgerenciar o trabalho. No início, eu perdi trabalhos por não poder emitir notas fiscais. E não foram poucos. Se eu estivesse mais bem preparada, soubesse o que sei hoje, onde eu estaria em minha carreira? E eu mesma, quando contrato alguém fornecedor para meus produtos, quero aquele que eu não precise explicar o serviço, que cumpra os prazos e que demonstre que tem habilidade para produzir o que pedi.


Além desses fatores, existem outros que eu chamarei de ‘internos’, inerentes ao próprio trabalho do ilustrador:


- O tipo de ilustração que você faz pode não condizer com a área que você quer trabalhar: às vezes o portfolio do(a) ilustrador(a) está repleto de ilustrações variadas, ou ilustrações de personagens para games, ou até aquarelas de flores, mas o desejo dele(a) é trabalhar com ilustrações infantis. É importante analisar se o seu traço tem relação com a área que deseja trabalhar. Para mim, por exemplo, já pediram várias vezes ilustrações para gibis/quadrinhos, mas meu foco é ilustração infantil editorial. Alguns trabalhos que aparecem para mim e que não são da minha área, eu passo para outros colegas ilustradores. O seu portfólio apresenta ilustrações relacionadas ao tema ou área em que quer trabalhar?


- As ilustrações ainda não tem um estilo definido: isso é algo que preocupa muito o ilustrador. “Será que eu tenho um estilo? Como desenvolvo o meu estilo?” Isso você vai conseguindo aos poucos. Pode levar semanas ou anos. Com o tempo, o seu jeito de desenhar vai ficando mais óbvio e as pessoas começam a perceber que o traço é seu. Até as crianças passam a perceber e comentar, algumas vezes surpreendendo até os pais.

Eu tenho uma prima bem mais velha que eu, que já tem netos. Um dia, eles estavam passeando pelo Jardim Botânico, quando a menina mais nova, de 2 anos, gritou:


"Olha o desenho da tia Ingrid".




Ela estava se referindo ao painel de azulejos que tem em frente ao Jardim Botânico de Curitiba.


Eles ficaram surpresos em ver que ela, tão nova, tinha reconhecido uma ilustração minha. - E eu também!


Foi uma grande surpresa para mim saber que alguém tão nova já conseguia reconhecer o meu traço.


Voltando ao estilo, eu diria pra você não se preocupar muito com isso. Desenhe, desenhe, desenhe e você vai ver que o seu estilo vai se formando. E no meu curso, tem algumas aulas sobre isso também.


Quando comecei, eu observava o trabalho de muitos ilustradores. O que eu gostava mais e o que eu não gostava, como um ilustrador tratou certo tema e qual o ponto de vista que ele usou... Às vezes pensamos somente em descrever uma imagem, desenhando todos os pormenores, mas uma perspectiva diferente pode trazer muito mais interesse à peça.

Observando as pessoas fazerem comentários sobre minhas ilustrações, percebi que pessoas achavam mais interessantes as imagens que fiz que desafiavam a perspectiva do que as mais ‘certinhas’. Quantas vezes achamos que temos que ‘masterizar’ a perspectiva, as luzes e sombras, mas na verdade o que mais chamou a atenção das pessoas foi o fato de você ter feito uma composição sem se preocupar com isso? Outro detalhe interessante a respeito de ilustração infantil é que não precisamos focar em fazer tudo perfeito. Coisas engraçadas e situações estranhas podem fazer parte da nossa ilustração, afinal as crianças fazem coisas absurdas às vezes....rsrs. Quem tem filhos sabe bem como são. E isso faz com que o expectador tenha empatia com o que você desenhou... e acaba criando um vínculo entre sua ilustração e o leitor ou expectador. E isso faz também as pessoas admirarem o seu trabalho.


- Habilidade: por mais que pareça difícil, é possível ser ilustrador sem saber desenhar. Parece estranho, mas há profissionais que trabalham fotos e imagens no computador e apresentam ilustrações que agradam muito a clientes e espectadores. Porém, ter algumas noções de princípios e bases de desenhos são super úteis, para não dizer essenciais, ao fazer uma composição. Depende da habilidade que você tem, seja manual ou digital. Na verdade, mesmo quando o ilustrador faz apenas algumas linhas, a sua ilustração pode conter elementos que intrigam, contam uma história, ‘falam’ com as pessoas, e que acabam fazendo muito sucesso. É difícil explicar por que uma ilustração agrada muito e outra, às vezes até mais bonita ou tecnicamente melhor executada, não “segura” o olhar das pessoas. Por isso, por mais que ache o seu trabalho bom, se você não consegue clientes, tem que avaliar se não falta alguma coisa, alguma técnica, narrativa, composição?


- Conteúdo: um portfólio tem que mostrar a capacidade do ilustrador poder ilustrar muito mais do que somente personagens, por exemplo. Pense numa história, em como seriam as ilustrações, os cenários, o clima, qual o ponto de vista que você vai utilizar, como você pode surpreender o leitor sem fugir da narrativa... Uma dica que dou é observar ilustradores que lhe agradam e analisar o que fazem. Como fizeram a composição, como é o traço, que paleta de cores usam... É interessante observar que uma ilustração que aborda algo que não tinha sido previsto às vezes traz a sensação de ‘uau!’. Eu não sei se me expliquei bem, mas o que quero dizer é: quando você faz um ‘trocadilho’ visual, e as pessoas entendem, e a ilustração diz algo a essas pessoas, a sua ilustração tem um “algo a mais”. E por isso que enfatizo sempre: procure outras pessoas, outros interesses, visite museus, leia artigos que não são da sua área. Tudo isso enriquece sua cultura e ajuda a produzir uma ilustração que vai mais longe, que alcança mais pessoas.


. Divulgação: por melhor que alguém seja no seu trabalho, a vida moderna está sobrecarregada de informações de todos os lados e, se você não se fizer visto, dificilmente as pessoas vão te achar. É preciso ter presença online e procurar divulgar o seu trabalho com consistência. Eu sei que não é fácil, pois todos temos família, casa, e mil tarefas... É o Instagram, Facebook, blog, Twitter/X... Eu confesso que tenho dificuldades com isso, porque os formatos são diferentes. Eu vivo postando coisa nos stories que, no post, ficam 'truncadas'. Seria muito bom se todas as mídias sociais usassem um mesmo formato. Assim facilitaria a vida de muita gente.


A verdade nua e crua é que, mesmo os ilustradores que parecem ser muito bem sucedidos, que ganham prêmios até, estão sempre procurando ‘prospectar’ novos trabalhos e clientes. Se eles pararem, quem vai fazer por eles? E isso é algo que todo ilustrador pode aprender. Já falei aqui e vou repetir: diferentemente dos Eua, onde o ilustrador tem um “agente”, que faz a parte comercial, contatos, contratos, etc... aqui no Brasil que faz tudo é “a gente” mesmo. Ou seja, nós os ilustradores.


Algumas pessoas me perguntam sobre como comecei, o que fazer quando tem alguma dificuldade, e posso dizer que cada ano as coisas tem melhorado. Alguns objetivos que eu tinha no início de minha carreira já foram realizados - alguns mutio além do que imaginei - e a cada ano surgem novas ideias do que eu posso fazer na minha profissão. Então, enquanto para alguns pode parecer que eu tenha alcançado o que desejava, confesso que a cada ano surgem novos interesses e ideias, graças a novos trabalhos, que abriram portas para novas oportunidades que eu sequer cogitava há dez anos. E que na época não eram nem possíveis. E acredito que no futuro teremos mais oportunidades ainda.


Por isso que eu enfatizo que temos que pensar em ilustradores empreendedores, pois é a nossa realidade. Como todo trabalhador autônomo ou freelancer, temos que trabalhar no projeto atual já pensando no próximo que vamos conseguir. Temos que empreender em projetos que possam vir a trazer renda, inventar produtos, investir em nós mesmos. Pensar em nós mesmos como uma empresa. Acho que esse é o nosso futuro, se é que já não é a nossa realidade.


Quando você tem talento, as pessoas se sentem atraídas pelas suas ilustrações. Elas querem, comentam, elogiam... Quando o seu trabalho está próximo a outros e as pessoas acabam pegando o que é seu para olhar melhor, ou ficam mais tempo olhando, aí você vê que tem algo ali que elas gostam. Isso pode não acontecer no início, mas com prática e aperfeiçoamento, pode vir a acontecer cada dia mais.


Outro fator que mostra que o seu trabalho é bom, é quando pessoas começam a te recomendar para outros. Você começa a receber pedidos de ilustração porque alguém sugeriu seu nome. Recomendar alguém é algo que coloca a pessoa numa situação até desconfortável, afinal a reputação dela está praticamente em jogo. Se uma pessoa está te recomendando, é porque ela aprecia o seu trabalho. E isso é maravilhoso!

Um ilustrado final de semana!

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